segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Os diferentes estilos dos Hórreos

Os diferentes estilos dos Hórreos

Hoje terminamos a saga dos hórreos que começamos há dois domingos. Os outros posts foram Descobrindo os hórreos e As possíveis origens dos hórreos. No post de hoje falamos brevemente dos diferentes estilos de hórreos que se pode encontrar pela Península Ibérica, considerando apenas os principais estilos.
Há diferentes tipos de hórreos, uns tão diferentes dos outros que podem até parecer que não são a mesma coisa. Existem dois grupos principais nos quais os hórreos podem ser divididos. Vamos a eles:
Hórreos em estilo Galaico-Português:
Hórreo galego no Parque Santa Margarita, La Coruña.
Hórreo galego no Parque Santa Margarita, La Coruña.
Estes hórreos, que na Espanha são chamados apenas de hórreos galegos, são predominantemente retangulares. Os materiais empregados variam conforme a zona onde se encontram. São bem comuns na Galícia Ocidental e norte de Portugal hórreos feitos totalmente de pedra (granito), desde as colunas até as paredes – inclusive as partes fendadas para ventilação. O telhado pode variar sendo comum os de telha ou pedra (xisto, chamado em Portugal também de lousa). São principalmente utilizados para armazenagem de espigas de milho ou batatas. Estes hórreos podem estar junto às casas de seus proprietários como podem estar em locais onde há um conjunto de hórreos que servem a uma comunidade.
As partes que o constituem são a caixa, onde o produto é armazenado; a porta de acesso; as paredes fendadas, que permitem a ventilação para secagem do produto armazenado, mas estreitas o suficiente para evitar a entrada de insetos; os pilares que o sustentam elevado do solo, que variam de número conforme o comprimento do hórreo; sobre os pilares ficam pedras redondas que servem para evitar que ratos subam até o armazém (estas pedras na Espanha são chamadas de tornaratas); uma espécie de apoio onde se pode encaixar a escada ou rampa que se utilize para ligar a escada à porta; a escada e o telhado.
Há mais detalhes que podem existir em alguns hórreos como o corta-formigas, uma pequena zona onde a água acumula-se e impede a passagem de formigas. Nem todos os hórreos têm enfeites, mas é frequente ver cruzes ou símbolos associados à fertilidade adornando a parte superior das paredes mais estreitas do hórreo.
Mas esta é uma descrição básica do tipo mais comum que se pode encontrar. Na Galícia a quantidade de hórreos é grande, é onde mais existem hórreos, e também é onde há uma maior variedade de estilos (veja indicação de livro sobre o tema no final do post). Veja no vídeo abaixo a grande variedade que pode existir nos hórreos encontrados na Galícia – e por extensão no norte de Portugal.
Hórreos em estilo Asturiano:
Hórreo asturiano
Hórreo asturiano
Os hórreos em estilo asturiano não são exclusivos do Principado de Astúrias, também são encontrados na Cantábria e León. O formato é sempre quadrangular, sendo predominantemente construídos em madeira (castanheira e carvalho).
Suas partes são basicamente as mesmas dos hórreos em estilo galaico-português. Possuem de diferente uma área externa à caixa (área de armazenagem) que também é utilizada para secagem e armazenagem de produtos agrícolas, o corredor, sendo este uma introdução mais recente. Esta área está presente em muitos dos hórreos em estilo asturiano, sendo que os que não a possuem têm colunas transversais em seu lugar para sustentar o telhado que terminaria sobre esta espécie de corredor, formando uma varanda coberta. Assim como os hórreos galaico-portugueses os asturianos possuem aberturas em suas paredes para ventilação, mas estas aberturas estão mais para pequenas janelas do que fendas. Há uma orientação certa para seu posicionamento, normalmente sendo voltados para o leste ou para o sul, pois os ventos e chuvas no meses mais frios são mais intensos vindos do norte e oeste.
Dentro deste estilo também há subdivisões, podendo-se encontrar uma pequena variação de estilos entre os hórreos asturianos, mas isto não significa variação da forma que é sempre quadrada. Podem ser encontradas construções retangulares que se parecem a hórreos asturianos, mas não são. Os hórreos clássicos são sempre sustentados por quatro colunas e quadrados. Se são retangulares e sustentados por mais colunas tornam-se uma outra construção chamada de panera. Os corredores citados como parte componente de muitos hórreos asturianos aparecem em todas as paneras, havendo a afirmação que na verdade era um elemento das paneras que foi transportado para os hórreos. Outra variante que adquiriram com o tempo foi a de serem construídos sobre outras construções, ou terem a parte inferior fechada. Nestes casos podem até ser chamados de hórreos mas não são os clássicos hórreos considerados de interesse cultural e protegidos por lei.
O vídeo que se segue mostra um conjunto de hórreos em estilo asturiano, em Villaviciosa, Astúrias. Não é nenhuma obra de arte cinematográfica mas dá uma idéia excelente das dimensões e formato de um hórreo asturiano. Não esqueçam que esta construção de considerável tamanho é montável e desmontável como se fosse um quebra-cabeças.
Hórreo navarro, no vale de Aezcoa, Navarra.
Hórreo navarro, no vale de Aezcoa, Navarra.
Além dos dois estilos citados existem hórreos em Navarra que se pode considerar como de um estilo à parte. O que acontece é que estes hórreos são muito poucos, existindo apenas cerca de 22 catalogados e todos com uma certa antigüidade. No País Basco também se pode encontrar alguns raros exemplares neste mesmo estilo.
Este hórreos são construídos totalmente em pedra, excetuando algumas vigas de sustentação. Mas como os demais, possui escada separada da construção (móvel ou não), aberturas para ventilação e são elevados do solo, tendo a mesma função dos outros hórreos.
No vídeo a seguir é possível ter uma idéia destes raros hórreos navarros. O vídeo está todo em espanhol, mas ainda que seu espanhol não seja dos melhores assista pelas imagens que são suficientes para se ter uma boa idéia deste tipo de hórreo.
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Martínez Rodríguez, Ignacio – El Hórreo Gallego , Fundación Pedro Barrié de la Maza
El Hórreo Asturiano (em espanhol)
Hórreos y Paneras (em espanhol)
Veja também os dois vídeos a seguir, que são uma reportagem da televisão portuguesa RTP1 sobre hórreos, neste caso canastros, portugueses.

As possíveis origens dos Hórreos

Semana passada falamos de algo curioso que vimos no caminho para Santiago de Compostela (veja post aqui). Hoje continuamos a falar dos tais Hórreos, entrando um pouco nas suposições sobre suas origens e descrevendo os diferentes estilos que adquiriu nas zonas onde foram construídos e ainda existem.
Não há uma certeza de quando os Hórreos começaram a ser construídos, existindo diversas teorias que tentam explicar como surgiram estas construções que coalham o noroeste da Península Ibérica. Vamos brevemente tratar de algumas destas possibilidades de origens dos Hórreos:
1) Seriam de origem Pré-Histórica:
Hórreo em Somiedo, Astúrias, com telhado de palha e estrutura em madeira.
Hórreo em Somiedo, Astúrias, com telhado de palha e estrutura em madeira.
Seguindo esta suposição, seriam originários de períodos pré-históricos, por a tecnologia de construção neles empregada ser conhecida por civilizações em estágios mais antigos de desenvolvimento. Os hórreos podem ser considerados um tipo de construção em palafitas, que teve início em civilizações pré-históricas. Outra razão para se crer em uma origem pré-histórica dos hórreos é o fato de pela Europa encontrarem-se restos arqueológicos do período Neolítico e da Idade do Ferro, em territórios das atuais França e Alemanha, em sítios de civilizações pré-históricas com economias ligadas à prática da agricultura. Uma das representações de hórreos mais antiga que se conhece foi encontrada no norte da Itália, onde há um conjunto de inscrições atribuídas aos celtas lepônticos. A própria forma de alguns hórreos lembra construções celtas, seja pelas palafitas, seja pela cobertura de palha. Na Península Ibérica, no entanto, não foram encontradas provas materiais em sítios arqueológicos que comprovassem esta origem pré-histórica dos Hórreos. Mas alguns etnólogos a sustentam, ainda mais levando em consideração citações feitas por historiadores e geógrafos romanos da existência de hórreos na península quando da entrada dos romanos. É o caso de Varrão e Plínio o Velho, que descrevem celeiros suspensos e inclusive recomenda-se o uso para a conservação do trigo. Ainda dentro desta teoria da origem pré-histórica dos Hórreos, supõe-se que a construção em si já era feita por povos pré-romanos, mas que passou por aperfeiçoamentos durante a ocupação romana. As colunas de sustentação em pedra seriam uma prova de melhorias feitas através do contato com a cultura romana, que fazia largo uso de pedras em suas construções.
2) Seriam uma aquisição cultural do período do Império Romano:
horreo08
Hórreo em estilo românico, no Vale de Valdorba, Navarra. Totalmente construído em pedra, por volta do século X.
Esta teoria é embasada em alguns pontos, principalmente a origem da palavra Hórreo. Hórreo é uma palavra de origem latina, derivada de horreum, significando nada mais nada menos que celeiro. Considerando que os povos conquistados obrigatoriamente adotavam a língua latina, é um pouco frágil esta suposição. A provável designação antiga dada ao Hórreo, invariavelmente se perdeu, devido à aculturação promovida pelos romanos. Este fenômeno é mais do que comum em culturas de povos submetidos.
Porém, os romanos já construíam celeiros elevados sob colunas com a finalidade de conservar alimentos. Não esqueçamos que a representação mais antiga que se conhece de um hórreo foi encontrada no norte da Itália, pertencente a uma cultura anterior à romana. Acrescentemos a isto o fato dos romanos serem especialistas em construções de pedra, por vezes, sem a utilização de argamassa, apenas encaixando as peças como é o caso da técnica de construção dos Hórreos. Outra possível aquisição derivada da ocupação romana seria o uso de telhas na cobertura dos Hórreos, que caso tenham existido anteriormente eram cobertos de palha. Ainda que não sejam de origem romana, é provável que tenham sofrido alguma evolução tecnológica graças à presença dos romanos na Penínsual Ibérica.
3) Seriam uma aquisição cultural do período da presença dos Suevos ou Visigodos no noroeste da Península:
horreo07
Kozolec, espécie de celeiro suspenso que pode ser encontrado na Eslovênia.
Esta terceira suposição, 

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